O ato de 2025 em memória das vítimas da chacina de Osasco-Barueri
No dia 16 de agosto de 2025, um sábado de sol da região metropolitana de São Paulo, ocorreu o ato em memória das vítimas da chacina de Osasco e Barueri. Nesse ano, marcou uma década da maior chacina do Estado de São Paulo, ocorrida entre os dias 8 e 13 de agosto de 2015. A mobilização ocorreu no bairro Munhoz Júnior, na divisa entre os dois municípios, onde uma série de ataques produziu 19 execuções há 10 anos.
O ato começou às 14h e contou a participação da dona Zilda Maria de Paula e de outras mães de Osasco e Barueri que deram os seus depoimentos. Também foi feito um enorme trabalho de solidariedade que contou com muitos braços e cabeças, além de 10 editoras. Uma campanha de arrecadação de fundos para o ato que tornou possíveis as presenças de diversos grupos, coletivos, associações e movimentos de mães de vítimas da violência do Estado vindas do Rio de Janeiro e da Baixada Santista. Ao lado das mães de Osasco e Barueri, cada uma contou a sua história, refletiu e desabafou ao microfone.
Mais uma vez o Coletivo Fabcine esteve presente e garantiu a estrutura audiovisual para que as falas das mães fossem feitas, assim como as atividades posteriores: exibição do documentário Memória Obstinada, produzido por Caio Castor, e a apresentação de rappers, entre eles Kric Cruz. Por volta das 19h, quando o dia dava lugar à noite e o ar esfriava, o ato também foi terminando.
Caderno de fragmentos e memórias
Apresentação do manuscrito
A resistência é uma palavra gramaticalmente classificada como substantivo feminino. Em sua definição dicionarizada também encontramos seu significado associado a um princípio da física mecânica: “propriedade de um corpo que reage contra a ação de outro corpo”. O corpo, aqui, não necessariamente é humano, porque corpo, na física, designa a matéria que pode ser composta por inúmeras propriedades. Ainda atrelado à física newtoniana do século XIX, essa matéria, como é sabido, é formada por uma massa de átomos que compõem as moléculas. Só avançando para o conhecimento em física no século XX que chegaríamos a possibilidade de descrições sobre a composição relativa dessa matéria no espaço/tempo e, mais adiante ainda, descrições das partículas em movimento, não visíveis a olho nu, em composições quânticas. Voltando ao dicionário eletrônico, ele sugere, para melhor compressão, palavras semelhantes à resistência: vigor, força, ânimo, energia, exuberância.
No entanto, nem tudo pode ser definido por uma convenção linguística, delimitado por regras gramaticais e preso a representações semióticas. Há de se considerar que o campo do vivido, das sensações e do experimentado também são capazes de produzir conhecimentos e significações. Se, modernamente, o poder e a política operam por uma gramática, a qual Maquiavel foi um dos primeiros a estabelecer e definir suas regras, a resistência ao poder e à política não cabem no ordenamento militar de palavras e signos estabelecidos pela gramática. Portanto, é no campo do sensível, do parcial, do subjetivo, do situado e do memorável que os breves escritos apresentados aqui se inscrevem. Por isso, além de relatar a resistência das mães que tiveram seus filhos executados pelos burocratas armados do Estado, os escritos compilados são também, por si só, um ato de resistência. Porque ao descreverem um mesmo acontecimento com a pena da perspectiva subjetiva, resistem à objetividade fria da experiência observável e passível de criar leis de regularidade que caracteriza a ciência e a política modernas.
Portanto, o que aqui apresenta-se são os relatos de 5 pesquisadoras diferentes em quase tudo (idade, formação, experiência de vida etc.), mas que descrevem o dia e os preparativos do ato em memória dos 10 anos da Chacina de Osasco e Barueri. A leitora (ou o leitor) poderá tomar contato com as formas, os cheiros, os corpos e os movimentos que fizeram o ato e o antes e depois do ato. São relatos de pesquisadoras que atuam regularmente no projeto de extensão do LASInTec junto à Associação 13 de Agosto. Não cabe aqui explicação, leiam e tenham sua própria experiência.
Por fim, e a despeito de resistir à gramática do poder, são relatos que se inscrevem como resistência em três palavras também femininas: a memória e a verdade libertárias.
Fotografias
Abaixo você pode ver algumas fotos do dia feitas por Mário Palhares. Clique aqui e siga o seu perfil no Instagram.
O almoço
A caminhada
As falas
Reportagens sobre os 10 anos da chacina de Osasco e de Barueri (agosto/2025)
La matanza de Osasco y Barueri cumple 10 años el 13 de agosto. Desinformémonos (México), 05/08/2025.
Chacina de Osasco e Barueri completa 10 anos. Le Monde Diplomatique Brasil, 13/08/2025.
Chacina de Osasco e Barueri, com 29 anos, completa 10 anos. Portal Terra - Visão do Corre, 13/08/2025.
Dez anos depois da maior chacina de SP: familiares carregam medo enquanto governo Tarcísio reintegra PMs. Correio da Cidadania. 19/08/2025
O que foi a chacina de Osasco e Barueri. Ponte.org, 12/08/2025.
‘Não pode esquecer, tem que incomodar’: mãe pede memória e justiça dez anos após chacina. Ponte.org, 13/08/2025
Coluna LASInTec | O que resiste à matança é a memória e a luta. Ponte.org, 15/08/2025.
Dor, memória e busca por justiça: ato marca 10 anos da Chacina de Osasco e Barueri. Ponte.org, 16/08/2025
Chacina de Osasco e Barueri: Familiares das 29 vítimas realizam ato por memória e justiça. Revista Fórum, 13/08/2025.
Chacina de Osasco e Barueri completa 10 anos com ato em memória das vítimas. Alma Preta, 13/08/2025.
Osasco e Barueri: Chacina com 19 mortes completa 10 anos. Repórter Brasil Tarde, TV BRASIL/EBC, 13/08/2025.
“Parecia um hospital de guerra”, lembra mãe de jovem morto em chacina. Agência Brasil, 13/08/2025.
Familiares e movimentos fazem ato pelos 10 anos da chacina de Osasco. Agência Brasil, 16/08/2025.
Parecia um hospital de guerra, lembra mãe de jovem morto em chacina de Osasco, Itapevi e Barueri. Folha de S. Paulo, 13/08/2025.
10 anos da chacina de Barueri: Familiares mobilizam manifestação em memória às vítimas e exigem Justiça. Jornal A Nova Democracia, 14/08/2025.
‘As lágrimas param, mas não secam’: Mães de Osasco e Barueri fazem ato por memória e justiça. TVT, 17/08/2025.
Familiares e movimentos fazem ato pelos dez anos da chacina de Osasco. Revista Etcétera, 17/08/2025.
Ato cobra justiça no aniversário da chacina de Osasco e Barueri. Visão Oeste, 18/08/2025.